A CULPA É MINHA?

Exposição mostra roupas "normais" de vítimas de estupro no dia em que sofreram o ataque — Foto: Reprodução/Facebook/CCM - Centre Communautaire Maritime

Imagine entrar em uma sala e se deparar com uma exposição de roupas comuns: pijamas, camisetas largas, vestidos casuais e até uma blusa infantil com estampa de desenho animado. O que essas peças de vestuário têm em comum? Todas foram usadas por vítimas de estupro no momento da agressão.

Uma exposição impactante na Bélgica traz à tona um tema doloroso, mas essencial: a culpabilização da vítima de estupro. "A culpa é minha?" exibe as roupas que mulheres e meninas vestiam no momento da agressão para desconstruir o mito de que a vestimenta é fator determinante para a violência sexual.

O que você imagina quando pensa em "roupas provocantes"? Talvez vestidos curtos, decotes, saltos altos? Então prepare-se para um choque: entre as peças expostas estão pijamas, camisetas largas e até mesmo uma blusa infantil com estampa de desenho animado. Os relatos por trás dessas roupas são de mulheres que tiveram sua dor invalidada porque o mundo insiste em perguntar: "Mas o que você estava vestindo?"

A iniciativa se inspirou na exposição "What Were You Wearing?" realizada na Universidade do Kansas, nos EUA, e foi trazida para Bruxelas por Delphine Goossens, que adaptou os depoimentos e montou a mostra para desafiar a ideia equivocada de que a culpa pode recair sobre a vítima.

Dados apontam que, na Bélgica, apenas 10% dos estupros são denunciados à polícia, e, desses, somente um em cada dez resulta em condenação. Esses números não são muito diferentes do resto do mundo. O medo do julgamento, a vergonha e a falta de acolhimento fazem com que muitas mulheres silenciem sua dor.

A exposição não é só um espaço de reflexão, mas um grito coletivo contra uma sociedade que insiste em desviar o olhar da verdadeira questão: o problema nunca foi a roupa, e sim a cultura de impunidade e de violência de gênero.

Se as roupas falassem, diriam que nenhuma delas convidou para a violência. Mas já que elas não falam, cabe a nós escutar as histórias e lutar para mudar essa realidade.

Para entender ainda mais sobre a importância dessa exposição e ouvir os relatos impactantes que ela carrega, assista ao vídeo que incluímos na matéria. Ele traz um olhar profundo sobre como essa iniciativa está mudando percepções e ajudando a combater a culpabilização das vítimas.



Se você ou alguém que conhece está passando por uma situação de abuso, não está sozinho. No Brasil, você pode denunciar através do Disque 180, canal gratuito e sigiloso de atendimento às vítimas de violência. 

A Revista Interagi está à disposição para apoiar e divulgar informações que possam ajudar a combater essa realidade. Juntos, podemos fazer a diferença.